Tendências de consumo: a revolução da terceira idade

A tecnologia e os avanços da medicina, sem dúvida, impactaram mais a vida dos seres humanos na última década do que em todo o século passado, e o ritmo tende a ser cada vez mais acelerado.

O principal motor dessa busca é o aumento da qualidade de vida e, por consequência, da nossa longevidade. O resultado é que – sim – o mundo está vivendo mais e melhor. Não é à toa que o Brasil está em vias de implementar a Reforma da Previdência justamente para adequar as regras da aposentadoria ao aumento da expectativa de vida.

Na outra ponta, as campanhas de planejamento familiar e os métodos contraceptivos puxaram o freio da taxa de natalidade, que ao longo dos últimos anos, vem caindo vertiginosamente.

Vamos mostrar alguns dados ao longo desse artigo, mas, por ora, basta que você pense por alguns instantes nas famílias que conhece. Geralmente, elas são compostas de quantos membros? Pai, mãe, filho único? Quem sabe um casal de filhos? Provavelmente. A verdade é que aquela composição familiar com 4 filhos ou mais está ficando no passado.

Aqui chegamos ao xis da questão. A terceira idade está em ascensão e traz com ela necessidades específicas, inclusive de consumo. No entanto, poucas empresas abriram os olhos para isso e estão deixando uma grande oportunidade passar. Não é o seu caso, porque está lendo este artigo agora. Então, boa leitura.

Seu conceito de velho é velho? Teste rápido

Após uma rápida reflexão, responda mentalmente se você concorda ou não com algumas das seguintes afirmações:

  • Todo mundo que chega nos 55 assume as mesmas características, comportamentos e anseios.
  • Pessoas mais velhas preferem ficar em casa a viajar.
  • Pessoas mais velhas gastam prioritariamente em produtos e serviços de saúde.
  • Pessoas mais velhas detestam tecnologia.
  • Pessoas mais velhas não são conectadas com a Internet.
  • Pessoas mais velhas adoram não ter mais que trabalhar quando a aposentadoria chega.
  • Pessoas mais velhas não têm bom poder aquisitivo.
  • Pessoas mais velhas se preocupam mais com preço do que com qualidade dos produtos.

Se você ao menos flertou com um “sim” para alguma das declarações acima, lamentamos informá-lo que seu conceito de velho envelheceu. Nas próximas seções, colocamos alguns porquês.

O mundo está ficando grisalho

De acordo com a OMS, entre 2015 e 2050, a população mundial com mais de 60 anos vai passar de 12% para 22%. Outro dado importante é que, em 2050, estima-se que 8 entre cada 10 pessoas com mais de 60 anos viverão em países de baixa ou média renda.

No Brasil, já existem 19 milhões de idosos e, segundo dados do Ipea, até 2060, a proporção dessa população na sociedade passará de 1 idoso a cada 10 habitantes para 1 idoso a cada 3 habitantes.

Ao contrário do que muitos pensam, eles são pessoas produtivas e conectadas. Mais do que isso: segundo o relatório “Consumer Generations” da Tetra Pak, o poder de compra dos seniores no mundo todo deve superar a ordem dos 30 trilhões de reais já em 2020. No Brasil, eles representam 20% da população economicamente ativa.

O poder de consumo da terceira idade

Economicamente ativa sim. E com mais tempo para consumir. Juntos, os seniores movimentam mais de 2,4 bilhões de reais ao ano. 80% deles recebe aposentadoria e/ou pensão. 72% saem de casa todos os dias, seja sozinhos ou acompanhados.

A maior parte dos gastos (70%) concentra-se nos itens moradia, saúde e alimentação. Dentro dessa porção, os gastos com moradia representam 33%, seguidos por gastos com saúde, 26%, e alimentação, 21%.

Em termos mais práticos, 77% deles gasta entre 100 e 500 reais com compras de supermercado e vão ao PDV ao menos cinco vezes por ano. Aliás, para 20% deles, sair para fazer compras é considerado uma atividade de lazer (estão errados? rsrs)

Apesar disso, o comportamento desse consumidor maduro é mais racional: 70% é mais imune à compra por impulso. Eles também detestam filas de espera e evitam ir às compras nos fins de semana.

Também é significante dizer que, na hora de escolher alimentos e bebidas, 88% desses consumidores querem mais qualidade ao invés de melhor preço dos produtos.

No fim das contas, hoje eles são responsáveis por 10% do varejo físico. No entanto, se você acredita que eles não estão tão inseridos no mundo digital, prepare-se para ficar de queixo caído: ¼ dos brasileiros acima de 60 já estão conectados. Em números absolutos, isso equivale a 15 milhões de pessoas. É bem verdade que eles ainda não usam dispositivos digitais tanto quanto a geração X, mas, em 2020, esse número deve dobrar.

Hoje 45% desse público afirmam que compram online. Mesmo os que efetuam compras na loja física fazem pesquisa antes na Internet.

Em 2018, a cada 2 minutos foi feita uma busca relacionada ao termo “envelhecimento” no Google. Com presença em ascensão nas redes sociais, os seniores preferem o Youtube.

Despertando simpatia, inspiração e interatividade, eles têm conseguido “quebrar o gelo” com as gerações mais novas, o que chamamos de quebra de barreira geracional. Exemplo disso é Nilson Izaias, o senhorzinho que queria aprender a fazer slime e alcançou mais de 12 milhões de visualizações no seu vídeo.

Nesse ponto, não custa lembrar que boa parte das celebridades nacionais e mundiais que conhecemos hoje estão nessa faixa etária. Consegue citar alguns? Vamos lá, no Brasil: Chico Buarque, Maria Bethânia, Elza Soares, Xuxa… No mundo: Madonna, Silvester Stallone, Paul Mccartney…

O que há de mais comum em todos eles? Todos estão trabalhando numa idade em que só deveriam estar curtindo a aposentadoria. Isso porque o próprio conceito de aposentadoria mudou.

Hoje, para 7% da população mais idosa no Brasil, aposentadoria não significa ficar sem trabalhar. Pelo contrário, é tempo de fazer escolhas com mais liberdade, empreender e voltar a estudar.

No mercado de trabalho, eles se diferenciam por serem mais simpáticos, experientes e pacientes com os clientes, o que impacta diretamente em funções de atendimento ao cliente. Além disso, os salários de pessoas nessa idade tendem a ser mais baixos que o de jovens com o mesmo nível de instrução.   

Os seniores e o desafio das empresas

Apesar de todos os dados que expomos até agora, a verdade é que 7 em cada 10 empresas ainda acham que os mais velhos não acompanham as transformações tecnológicas.

Entre as empresas que mais têm buscado se adaptar às necessidades específicas da terceira idade estão as farmácias. Hoje, 45% dos idosos se identificam com produtos do segmento de medicamentos.

Supermercados também já estão de olho nessa parcela importante da população. Encartes com letras maiores, mais acessibilidade e disposição adequada dos produtos nas prateleiras ja sinalizam para esta mudança.

Quanto ao mundo do e-commerce, a orientação é para que lojas dedicadas a este público também tenham textos com letras grandes, categorias objetivas e claras, além de design simples e funcional.

Indo adiante, um dos principais segmentos que ainda concentra muita insatisfação por parte dos seniores é o da moda. Por ser um segmento muito apegado ao padrão tradicional europeu de beleza, a moda, quem diria, também tem seus tabus.

No entanto, isso também está mudando. Recentemente, a grife austríaca Helmut Lang lançou uma campanha publicitária utilizando modelos seniores na sua coleção outono-inverno.

A terceira idade não é homogênea

Um dos maiores erros que se comete, quando se trata da terceira idade, é tentar colocar todas as pessoas a partir dos 55 anos na mesma “caixa”, mas idoso não é tudo igual. As pessoas de 55 a 65 têm necessidades diferentes das pessoas com 70, por exemplo. Além das diferenças decorrentes da idade, há também diferenças comportamentais, de classe, de estilo de vida etc.

Nesse sentido, alguns, por exemplo, são mais vaidosos e passam a fazer uma jornada em busca da “fonte da juventude”. Esse grupo é mais antenado em relação a tratamentos estéticos, lançamentos de cosméticos e novas coleções de moda.

Outros já resolvem assumir a velhice com orgulho e preferem curtir a vida investindo em educação, terapias de bem estar, novas experiências e viagens.

Por isso, para traçar estratégias de marketing efetivas para a terceira idade, o ideal é mapear o comportamento desses subgrupos e desenvolver ações mais focadas. 

Esperamos, com este artigo, ter ajudado você a ter vários insights para criar novas abordagens para alcançar esse público tão precioso, capaz de ampliar suas possibilidades de negócio.

Se quiser acrescentar alguma informação que considera importante sobre o tema ou se tiver alguma dúvida, compartilhe conosco deixando seu comentário.

Por: Hospeda Site

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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