Crise acelera a digitalização e faz consumidor mudar hábitos

Pesquisa mostra expansão no uso de apps, mais comparação de preços e controle nos gastos.

A crise do coronavírus vai mudar as relações de consumo no Brasil. Pesquisa do Instituto Locomotiva com 1.131 consumidores em 72 cidades de todos os Estados brasileiros já mostra mudança de comportamento na hora de comprar e aponta para uma tendência de digitalização da economia da baixa renda.


A compra pela internet via aplicativos cresceu mais de 30% no primeiro mês de isolamento social, com crescimentos mais expressivos em dois grandes mercados consumidores: o das pessoas com mais de 50 anos, que é o principal do país, e o das classes C, D e E, que juntas representam um pouco mais da metade do poder de compra de todos os brasileiros.

Os mais velhos, que não compravam on-line por hábito e alguma dificuldade com a tecnologia, foram de certa forma obrigados a aderir. Já a baixa renda passou a usar os meios eletrônicos com mais intensidade muito em função dos programas de assistência oficiais e privados, todos on-line.

São programas como o auxílio do governo pago via Caixa Econômica Federal, o valemerenda, para 700 mil alunos do ensino público do Estado de São Paulo, pagos por meio do app Picpay, a distribuição de cestas eletrônicas (para 10 mil famílias) da ONG Gerando Falcões ou vale-mãe, da Central Única das Favelas (Cufa).

Nos hábitos de consumo, a pesquisa mostrou que 98% dos consumidores
aumentaram as comparações de preço. Mais da metade deles (59%) dizem que passaram a comparar “muito mais”. Dos entrevistados, 82% estão experimentando novas marcas; 70% passaram a economizar tempo nas compras.

O levantamento mostra também que o isolamento social serviu para melhorar a divisão de tarefas no lar. Dos entrevistados, 71% disseram ter ocorrido uma redistribuição do trabalho doméstico. A metade feminina do universo da pesquisa avaliza o dado.

A compra por aplicativos cresceu. Conforme a categoria (alimentos, higiene, artigos infantis, medicamentos etc.) entre 10% e 17% não compravam para receber em casa e agora compram. Também conforme a categoria, entre 8% e 25% dos entrevistados passaram a comprar mais on-line (ver quadro acima).

Para Renato Meirelles, a digitalização já era um movimento em curso, mas ia demorar muito mais para ocorrer, não fossem as contigências da pandemia.

O outro lado da moeda, diz Meirelles, está no pequeno empreendedor que passou a aceitar meios digitais ou inscreveu seu negócio em um aplicativo para atender o consumidor digitalizado.

“Essa distribuição de renda e de donativos via aplicativo acelera ainda mais o processo de formação de novos ecossistemas financeiros”, comenta Meirelles. “Mas ela só está ocorrendo porque estamos em crise, o que traz movimentos sem volta para o consumidor.”

O isolamento social também levou a uma das principais tendências do consumo a partir de agora: o aumento na prática de pesquisar e comparar preços. Segundo o levantamento, 55% dizem que pretendem manter o hábito de pesquisar mais preços depois de crise e 45% querem continuar gastando menos que antes.

Há também um impacto previsto para as compras presenciais: 32% vão reduzir as compras em lojas físicas e 49% pretendem comprar mais por aplicativo.

Por: Valor Econômico, por Eduardo Belo

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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