Brasileiros gastam 50% do que ganham para sobrevivência básica

Alimentação, pagamento do aluguel e prestação da casa lideram a lista de prioridades. Prioridades no orçamento familiar variam de acordo com o rendimento mensal.

A alimentação e a moradia devoram um terço da renda dos brasileiros todos os meses, independentemente da classe social, como mostra a pesquisa “Como Gastam os Brasileiros”, desenvolvida pelo Mundo do Marketing em parceria com a eCGlobal e a eCMetrics. O que é considerado importante ou supérfluo varia de acordo com o potencial financeiro do consumidor, mas as despesas fixas ainda são responsáveis pela maior fatia do salário da população, que volta, gradativamente, a viver a inflação.

A alta dos preços já pode ser percebida no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que nos últimos 12 meses acumulou alta de 6,52%, acima do teto da meta de inflação do Banco Central, que é de 6,5%. Na prática, a população sente os efeitos no saldo bancário: metade do que se ganha vai para o pagamento do combo alimentação, moradia, transporte, luz, água e gás.

A casa se torna uma despesa ainda mais pesada para os consumidores das classes B e C, já que a maioria paga aluguel ou parcelas de um imóvel. Já nos grupos mais abastados a cota mais puxada fica por conta da educação dos filhos. “Para a classe A, a etapa de compra da moradia, em geral, já foi superada. Eles são os que mais gastam com educação por escolherem escolas mais caras”, comenta Adriana Rocha, CEO e Co-founder da eCGlobal, em entrevista à TV Mundo do Marketing.

brasileiros-gastam-50-do-que-ganham-para-sobrevivencia-basicaQuem gasta com o quê?

As prestações do carro, os seguros e os consórcios, além dos gastos com lazer e roupas, são liderados pelas classes B1 e A, que possuem renda média bruta familiar de R$ 6.006,00 e R$ 11.037,00 respectivamente, segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil, da Associação Brasileira de Pesquisa (Abep). Esses dois grupos possuem comportamento financeiro semelhante. Já os empréstimos e as prestações diversas, presentes em ambos, também atingem os emergentes da classe C1, com renda média bruta de R$ 1.865,00.

A classe C como um todo prioriza a compra de roupas e cosméticos, bem como serviços de beleza. Existem, contudo, variações entre as preferências das famílias compreendidas na classe C1 e aqueles que se enquadram na camada C2, com rendimentos médio de R$ 1.277,00, segundo os cálculos da Abep.

Os primeiros priorizam gastos com saúde, como planos de saúde e farmácia, e o pagamento de crediários. Já os últimos valorizam as despesas com moradia, prestação do carro, mensalidade escolar e celular. Aqueles que emergiram recentemente para a chamada “Nova Classe Média” são os que mais se preocupam em poupar dinheiro para emergências. “Os emergentes guardam dinheiro para os momentos difíceis. Mas, quando a grana fica curta, é a poupança que eles cortam primeiro”, comenta Adriana Rocha.

E quando falta dinheiro?

Na lista do que é deixado de lado em tempos de recessão, só a moradia e o abastecimento de comida do lar estão a salvo. Os fundos para emergências e as consultas, exames, planos de saúde são os primeiros a saírem do orçamento da maioria das pessoas. O mesmo acontece com os crediários e cartões. Em casos mais extremos, até as contas de luz, água e gás são postergadas. “É um pouco da cultura do brasileiro, de que aquilo que pode ser negociado e pago depois fica de lado quando se passa por uma dificuldade financeira”, avalia a CEO da eCGlobal.

Quando a conta não fecha, a Classe A corta ou reduz primeiro a TV a cabo e a gasolina, mas também mostra-se disposta a sacrificar investimentos e até os custos da moradia. “Nesse grupo, não são os supérfluos os primeiros a serem afetados. Antes, faz reduções em outras áreas”, analisa Adriana Rocha.

Já a classe B aponta como primeiros cortes a mensalidade escolar, a conta de telefone e a internet. Na classe C, além das contas, ainda são eliminados o lazer fora de casa e a compra de livros, CDs, DVDs e roupas. “Para a classe C2, especialmente, acaba sendo mais fácil abrir mão do entretenimento externo ao lar, pois é a que menos gasta com este tipo de programação. O tempo livre costuma ser aproveitado dentro da própria casa”, comenta Adriana Rocha.

A percepção do que deve sair da lista de gastos também muda de acordo com o sexo. Os homens deixam de pagar primeiro as mensalidades escolares e também de poupar para eventualidades. Já as mulheres abrem mão de presentes e gastos relacionados à saúde e estão dispostas, inclusive, a reduzir a conta do supermercado. “O homem poupa mais, enquanto as mulheres gastam com saúde, roupas e beleza. Por outro lado, os homens gastam mais com prestação de carros. É uma questão de prioridades, e isto interfere diretamente na hora de resumir o orçamento”, pontua a CEO da eCGlobal.

Para onde vai o dinheiro que sobra

Abrir mão do consumo a que se está habituado não é agradável para ninguém. À medida que as finanças começam a se estabilizar e sobra algum dinheiro, a primeira ação é retomar aquilo que considera importante e precisou ser cancelado por falta de verba. “Ninguém quer ficar sem internet ou baixar sua qualidade de vida. Assim que sobra algum dinheiro, a tendência é de recuperar o equilíbrio que foi perdido”, diz Adriana Rocha.

A preocupação em restabelecer um fundo de emergência é unanimidade entre as classes, assim como retomar consumo de cultura por meio de livros, DVDs e a compra de mimos, como presentes. Para a Classe A1, o lazer e as contas da internet são os primeiros a voltarem para a lista de gastos mensais. Já as classes A2, B e C1 priorizam a regularização das contas que ficaram atrasadas. Os componentes da camada C2, por sua vez, voltam a investir em beleza e lazer, prioritariamente.

Por: Mundo do Marketing

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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