Aumenta interesse do consumidor brasileiro por café gourmet

Antes destinados à exportação, grãos especiais são utilizados por pessoas que buscam diferenciação em um dos produtos nacionais mais tradicionais. Mercado mira nas classes A e B.

Novos hábitos de consumo, informações mais acessíveis, modismos cada vez mais breves e tecnologias sendo criadas a todo momento mostram as transformações pelas quais a sociedade passa. A produção de café no Brasil também sofreu mais uma reviravolta, chamada de terceira onda, com o crescimento da procura por grãos especiais. Cada vez mais gourmet, a bebida ganha toques sofisticados e agrada a uma parcela da população que busca diferenciação em um dos produtos nacionais mais tradicionais.

O brasileiro é um dos maiores consumidores da iguaria em todo o mundo, bebendo cerca de 80 litros per capita por ano, atrás apenas dos norte-americanos, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). A descoberta dos tipos com maior qualidade trouxe à tona um perfil de comprador mais refinado e voltado à diferenciação. O sabor único faz com que o preço seja elevado – média de R$ 60,00 o quilo – e chegue apenas à parcela mais abastada da população.

Os tipos especiais correspondem a cerca de 5% do volume, mas crescem significativamente na produção e no consumo. A Abic tem feito um acompanhamento desses grãos desde o ano 2000. “ 14 anos, era difícil encontrar um café gourmet porque não havia fabricação industrial dele no Brasil. A matéria-prima era toda exportada. Atualmente, existem mais de 200 marcas e, dessas, 145 são certificadas por nós. As avaliações têm que ser feitas constantemente porque lidamos com um fruto nobre”, conta Nathan Herszkowicz, Diretor Executivo da Abic, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Perfil do consumidor

A estimativa é de que não apenas as classes A e B tenham acesso à bebida de alta qualidade, como também a C, que se destaca por investir em produtos com algum status associado. O aumento na procura por cafés capsulados é um dos reflexos da mudança de comportamento do consumidor de café tradicional. As diversas opções de sabor, design de cafeteira e sensação de poder que esse estilo transmite fez com que a novidade fosse facilmente inserida nos lares brasileiros e adotada pela indústria de café.

A chegada de redes como Starbucks também contribuiu para levar o item a um status mais requintado e para aproximar o público jovem desse setor. Os varejistas, em paralelo, ganharam profissionais especializados e capacitados no ramo. “Os baristas hoje também são sommeliers, uma vez que entendem da degustação do café especial, como ocorreria com um bom vinho. As bebidas, inclusive, são comparadas, porque há um conhecimento de paladar similar nas duas: ambas tem aromas, sabor, tipos e status valorizados”, conta Nathan Herszkowicz.

Assim como foi nos tempos do Império no Brasil, existe uma relação de poder em torno do fruto, embora atualmente ela apareça de forma diferente dos tempos históricos. “Vejo a presença de muitos executivos em nossas unidades. Acabamos nos tornando um lugar para ver e ser visto no mundo dos negócios. Muitos artistas e headhunters vão para observar quem frequenta. Já vi propostas serem feitas ali mesmo”, conta Edgar Bressani, Diretor Executivo do Octávio Café, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Produção interna

Os grãos especiais vendidos no Octávio Café, em São Paulo, são os mesmos que os exportados para outros países, como Estados Unidos, Japão, Emirados Árabes, França e Noruega. A safra, antes direcionada exclusivamente ao exterior, já encontra no Brasil uma parcela de consumo considerável, que cresce representativamente ano a ano. “Existe uma demanda por café de qualidade, mas ainda temos muito que avançar. São poucos os empresários que são voltados ao grão de qualidade, já que muitos dos produtores são de origem familiar. Essa produção diferenciada soma praticamente 1% do café cultivado no mundo. Então, nem há comparação com o café do dia a dia que encontramos nos supermercados e que é o foco da grande indústria”, conta Edgar Bressani.

Os pacotes comprados nas gôndolas pelos brasileiros são do tipo Conilon, que são menos intensos e saborosos do que o grão verde. Este, por sua vez, por não ser fabricado em larga escala, restringe-se a pontos de venda específicos, como delicatessens e cafeterias. De acordo com os indicadores da Abic de 2013, o consumo da bebida mais sofisticada fora do lar segue crescendo, representando 36% do consumo total. A preferência por esses locais é por causa das variações da iguaria disponíveis, diferente da que o cliente costuma ter em sua própria casa.

Observando a maior procura e a difícil entrada nas grandes varejistas, o clube de assinaturas Grão Gourmet passou a entregar na casa dos consumidores os tipos especiais em embalagens, cujo peso pode ser escolhido pelo cliente. “O setor cafeeiro ainda tem muito espaço para crescer e criamos algo inovador. O café gourmet tornou-se mais acessível e pode ser feito em casa. Hoje, 60% do nosso cadastro é composto por homens, possivelmente os que já estão habituados a consumir fora de casa e querem estender o uso para o seu lar”, conta Boris Gancev, Sócio-Fundador do e-commerce Grão Gourmet, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Inovações

As oportunidades de negócios em torno da bebida estão surgindo de forma promissora e levando o grão a outras sensações mais palatáveis. A SPA lançou produtos à base de café que podem ser utilizados para recheio e coberturas de sobremesas. Eles oferecem ingredientes em receitas que, até então, levavam chocolate, doce de leite ou outro tipo de creme ou pasta. A empresa quer incorporar o hábito de comer o fruto entre os brasileiros e ampliar as experiências gustativas.

Assim como o creme de avelã se tornou famoso nos quatro cantos do Brasil, a proposta é criar uma atmosfera mais envolvente e refinada ao líquido. “Fomos muito bem recebidos entre os nossos consumidores, que são chefs, distribuidores de cafeterias e supermercados. O café chegará a outros produtos diferentes do que as pessoas estão acostumadas, como floco de sorvete feito da planta, por exemplo. Por serem especiais e bem avaliados, essas novidades têm um sabor muito melhor do que os itens à base de café que já existem por aí. Essa diferenciação é uma forma de o comprador se presentear, uma vez que o sabor encontrado é único”, conta Luciano França, diretor da SPA.

Para dar conta da demanda que surge, os donos de fazenda têm investido em tecnologia de ponta para manter os padrões de excelência. Fatores como clima, altura da árvore e controle de pragas têm que ser observados de perto. “Os fazendeiros já entenderam a importância de trabalhar com um grão 100% Arábica, porque é um mercado exigente, que é avaliado constantemente para certificação de grão nobre. Além disso, somos reconhecidos em todo o mundo com um dos melhores cafés”, conta Eduardo Heron, gerente de projetos do CeCafé, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Por: Mundo do Marketing

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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